É um consenso: o aleitamento materno é importante para a saúde e o desenvolvimento do bebê. Amamentar evita infecções e problemas respiratórios, reduz o risco de alergias e obesidade, nutre a criança por completo e fortalece o vínculo entre mãe e filho. Mas muitas dúvidas sempre povoam as mentes das mães de primeira viagem.
O Cabeça de Criança esteve com a pediatra Luciana Herrero, consultora internacional em amamentação e gestora do Instituto Aninhare, que promove cursos e palestras para pais e empresas, para desvendar algumas das dúvidas mais frequentes que envolvem o aleitamento materno. Para a médica, o ideal é que a mãe se prepare para amamentar desde a gestação. “A confiança vem quando a mulher busca aprendizado antes mesmo do nascimento do bebê”, diz.
Luciana está lançando o livro “O Diário de Bordo do Parto” (Editora Aninhare), que tem como objetivo ajudar as mulheres a escolherem e planejarem a maneira como trarão seus filhos ao mundo.
Saiba o que é mito e o que é verdade no universo da amamentação:
Estresse emocional afeta a produção de leite
Verdade. A amamentação depende de dois hormônios, a prolactina e a ocitocina. A primeira estimula a produção do leite, enquanto a segunda é responsável pela descida do líquido até o mamilo. O estresse pode afetar a produção de ocitocina, consequentemente atrapalhando a amamentação. “O fator psicológico tem um efeito concreto na amamentação”, diz Luciana Herrero.
O leite materno pode ser “fraco”
Mito. O leite materno é composto de 97% de água. Se comparado com o leite de vaca, ou com as fórmulas, ele parece menos denso. Ele é facilmente digerido, e portanto o bebê alimentado com ele pode sentir fome mais rapidamente do que um que ingere leite artificial. Mas isso não significa que o leite materno não seja nutritivo. Pelo contrário. Ele é o único capaz de transferir anticorpos da mãe para o bebê. O leite no início de uma mamada, chamado de “anterior”, é mais “aguado”, mas contém vitaminas, minerais e anticorpos. Após alguns minutos, o leite chamado “posterior” começa a descer. Este é rico em gordura e vai fazer com que o bebê sinta-se satisfeito e ganhe peso. Por isso, é importante oferecer um seio por mamada e trocar de lado apenas quando a primeira mama for esvaziada.
O peito pode empedrar nas primeiras semanas
Verdade. Nos primeiros dias após o nascimento do bebê, o organismo ainda não sabe qual será a demanda da criança, portanto as glândulas mamárias podem produzir leite em excesso. Se o leite empedrar, deve-se fazer a ordenha manual para retirar o excesso, e não usar bombas elétricas (veja vídeo abaixo para saber como fazer a ordenha). É importante que a mulher aprenda essa técnica ainda durante a gestação, para estar preparada caso precise utilizá-la.
A ordenha manual ajuda na “pega” do bebê
Verdade. Principalmente nas primeiras duas semanas, é importante checar antes de cada mamada se o peito está flexível. Se estiver muito cheio e duro, o bebê terá dificuldade na “pega”, que é o encaixe da boca no peito, o que provoca dor para a mãe e pode até causar rachaduras no bico do seio. A solução está na ordenha manual, um procedimento para retirar o excesso de leite. Veja o vídeo abaixo para aprendê-la.
Alimentos como canjica e milho aumentam a produção de leite
Mito. Nenhum alimento é capaz de aumentar a produção de leite. O que ajuda de verdade é beber bastante água, ter uma alimentação saudável, descanso, tranquilidade, acolhimento e apoio da família e do pai da criança.
Cerveja preta aumenta a produção de leite
Mito. O efeito relaxante da bebida até pode ajudar na produção de leite por reduzir o estresse, mas o álcool é totalmente contraindicado para as mulheres que amamentam.
Chocolate provoca cólicas em todos os bebês
Mito. Alguns alimentos ingeridos pela mãe podem provocar desconforto intestinal nos filhos, mas não há uma regra, a não ser em casos específicos de intolerância, quando por exemplo a criança tem alergia à proteína do leite de vaca (APLV). O ideal é que a lactente observe a reação do bebê quando ela comer algo diferente do habitual. Mas é bom lembrar que muitas vezes o choro que parece ser de cólica pode ser causado por outros motivos, e que muitos bebês sentirão dores abdominais independentemente do que a mãe comer, pois esse processo faz parte do amadurecimento do trato gastrointestinal.
Peito pequeno produz menos leite
Mito. O tamanho dos seios é determinado pela quantidade de gordura, mas as células produtoras de leite, as glândulas mamárias, e os ductos por onde o líquido passa, são iguais para todas as mulheres. Quanto mais a mama for sugada, mais leite produzirá.
Cirurgia de redução das mamas pode atrapalhar a amamentação
Verdade. As glândulas mamárias podem ter sua quantidade diminuída nas cirurgias redutoras. É possível amamentar após um procedimento desse tipo, mas talvez a mãe precise de ajuda extra, como a relactação. Essa técnica consiste em usar uma sonda fina colada junto ao seio e conectada a um recipiente com leite artificial (fórmula). Quando o bebê mamar, ele vai sugar o peito e a sonda ao mesmo tempo. Isso serve para que ele se mantenha bem alimentado, caso a produção de leite da mãe seja insuficiente, sem deixar de estimular o seio. Quanto mais ele sugar, mais as mamas produzirão leite.
A mulher que amamenta está protegida de engravidar novamente
Mito. A proteção só acontece se a mãe estiver amamentando exclusivamente no peito e em intervalos de até 3 horas, inclusive de madrugada. Se algumas mamadas forem mais espaçadas, a mulher pode ovular, mesmo se não estiver menstruando. Ou seja, o método não é 100% eficaz e a lactente corre sim o risco de engravidar se não usar preservativos ou adotar outro método contraceptivo, como DIU, implantes ou pílulas. Mas as pílulas comuns não devem ser usadas, pois podem alterar a produção de leite e transferir hormônio feminino, o estrogênio, para o bebê. Existem medicamentos específicos para essa fase, compostos apenas de progestagênio, que não interferem na amamentação. O ideal é decidir com o ginecologista qual método adotar.
Exercício seca o leite
Mito. Atividade física não reduz a produção de leite. Se o exercício for muito intenso, a mulher pode produzir ácido lático em excesso, o que altera o sabor do leite. Mas a atividade tem de ser muito extenuante para isso acontecer.
Se a mulher não produz colostro durante a gestação, vai ter problemas para amamentar
Mito. Colostro é um tipo de leite produzido pelas mamas antes do leite de fato começar a descer. Algumas mulheres secretam esse líquido durante a gravidez. A ausência dele durante a gestação não indica que a mãe terá dificuldades na amamentação depois que o bebê nascer.
Toda mulher é capaz de produzir leite.
Verdade. A primeira descida do leite, a chamada “lactogênese primária”, acontece com todas as mães. A manutenção dessa produção é outra história e depende de vários fatores, como o estado emocional da mulher.
As mulheres que passam por cesárea podem demorar mais para produzir leite.
Verdade. O trabalho de parto é importante para o corpo saber que está na hora de começar a produzir leite. Portanto, mesmo nos casos em que a mãe opta pela cesárea, é importante pelo menos esperar as primeiras contrações, se for possível.
Dar mamadeira pode atrapalhar a amamentação.
Verdade. Além da mamadeira exigir menos esforço do que o peito, a maneira de sugar um bico artificial é diferente de mamar no seio. Portanto, misturar a mamadeira com peito pode causar a chamada “confusão de bicos”, que pode acarretar no desmame do peito. Há bebês que alternam o peito e a mamadeira sem problemas, mas essa é a exceção.